8 de nov. de 2010

Conversar faz bem à criatividade


Dois artigos que li recentemente ressaltam um importante aspecto no desenvolvimento das habilidades criativas: a criatividade como uma atividade social, uma interação com a comunidade a que pertencemos.

O primeiro artigo, de Michael Michalko, menciona importante observação feita pelo físico David Bohm, quando pesquisando as vidas de Einstein, Heisenberg, Pauli e Niels Bohr. Estes notáveis cientistas tiveram um hábito em comum: realizar reuniões com seus colegas para troca de ideias sobre seus trabalhos e descobertas. Eles conversavam num clima de camaradagem, trocando ideias sem tentar mudar as atitudes uns dos outros e sem argumentações agressivas. Eles se sentiam à vontade para propor o que lhes vinham à cabeça e prestavam atenção às opiniões dos outros, estabelecendo um extraordinário clima de camaradagem profissional. Esta liberdade de dialogar sem riscos e constrangimentos resultou em notáveis avanços científicos.
Por outro lado, muitos outros cientistas promissores que, por ciúmes, desconfiança ou insegurança, se envolveram em controvérsias menores com seus colegas, acabaram por não produzir nada de importante.
Einstein e seus colegas ilustram o enorme potencial do pensamento colaborativo, a noção de que uma colaboração aberta e honesta ajuda o desenvolvimento do raciocínio inventivo. Para ser eficaz, esta conversa deve seguir três princípios adotados desde a época de Sócrates:

Estabeleça o diálogo: realize um intercâmbio de ideias sem tentar mudar a mente da outra pessoa. As regras básicas do diálogo são: Ouça atentamente, não discuta e não interrompa.

Clarifique seu pensamento: suspenda todas as suposições não testadas e tente manter uma perspectiva imparcial. A tomada de consciência e a suspensão de suas suposições possibilitam que seu pensamento flua com mais liberdade, sem bloqueios.

Seja honesto: diga o que você pensa, mesmo que suas ideias sejam controversas.

O outro artigo, de Leslie Evans, trata do trabalho de Lawrence Lessing, professor da Universidade de Stanford, sobre a necessidade de mudanças no conceito de copyright na era digital. Lessing observa que Mickey Mouse e outras famosas criações de Walt Disney são adaptações criativas de personagens e contos que já existiam. Ele define o que chama de “Criatividade Disney”, ou seja, a habilidade de pegar a cultura em sua volta, juntar a ela seu esforço criativo e gerar algo valioso para os outros. É a expressão da criatividade pela construção de algo baseado na cultura coletiva.
Em resumo, a criatividade é uma atividade eminentemente social. A inovação não resulta de um ato individual e isolado, mas da interação do indivíduo com a sociedade, extraindo dela sua cultura, seus conhecimentos e seus ensinamentos. Neste processo, o diálogo num ambiente de camaradagem tem um papel fundamental na geração e maturação das ideias inovadoras.


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