3 de jan. de 2012

Estranhas florações

Estranhas florações

Luiz Martins da Silva ( * )

Exóticas floras, estranhas formosuras,
Brotam de um chão vermelho e calcinado.
Não parecem flores, não parecem frutos,
Estranhos contra um céu profundo, é o Cerrado.
Estranhas formas, cada estranha criatura!
Casca grossa, cheiro forte, gosto ácido.
De tão estranhas nem parecem maduras,
Mais figuram como seres de um cretáceo.
Tudo aqui parecia estranho ao candango
E também aos que foram pioneiros.
A terra era óxida, as sementes medonhas,
Na própria casa pareciam estrangeiras.
Fui conhecendo e amando cada uma aos poucos:
Guairoba, guariroba, cagaita, mangaba, pequi.
Cada qual se apresentando com um nome mais louco:
Articum, araticum, mamacadela, baru, bacupari.
 
Agora, que já não causariam nenhum espanto,
Foram-se, deram lugar a safras mais domésticas.
Procuro em toda parte e não as encontro.
Saudosas espécies de extravagante botânica!

* Poeta, jornalista, professor da UnB – vencedor do Concurso Nacional de Literatura Cassiano Nunes.
Poesia gentilmente cedida pelo autor.
Fotos: Evando F. Lopes

2 comentários:

Lety disse...

Dois poetas. Luiz Martins da Silva nos encanta com palavras, Evando nos encanta com imagens!

romulo disse...

Um belo e descritivo poema/depoimento de puro amor cerratense. E as imagens fazem com ele um contraponto deveras interessante - minhas congratulações aos dois poetas.