19 de out. de 2010

Gigantismo, economia de escala e limites de tolerância

Antes de terminar a análises dos problemas econômicos fundamentais, faço questão de sublinhar as consequências do gosto pelo gigantismo e seu corolário, a economia de larga escala, enunciada como uma lei pelos economistas. Desde nossa infância, somos submetidos ao culto do gigantismo. Aprendemos os nomes das montanhas mais altas, dos rios mais extensos, dos países mais povoados, das cidades mais importantes. A mídia insiste sobre o maior estádio, sobre o filme cuja produção custou mais cara, sobe os filmes e livros que mais venderam a cada mês. Existem também as listas de carros e aviões mais rápidos e até mesmo a das armas mais poderosas. Além disso, devemos também nos felicitarmos pelas fusões de empresas que se tornam, assim, as maiores do mundo. O culto do gigantismo é profundamente arraigado na nossa cultura.
Cada civilização, cada chefe incontestado em diferentes países desejam marcar sua passagem por realizações grandiosas. Depois da liberação da França, De Gaulle quis marcar a renovação do poder francês com o Concorde e a bomba atômica. Todo ditador (Mussolini com a Roma moderna, Hitler com sua arquitetura, Stálin com seus grandes empreendimentos) quer mostrar ao mundo sua superioridade. Quanto aos economistas, eles justificam as concentrações empresarias por uma lei circunstancias: A lei da economia em larga escala. Segundo essa lei, os custos evoluíram inversamente ao tamanho da empresa. Em nome dessa lei, as empresas industriais médias foram absorvidas. Os anos 50 levaram ao desaparecimento de 800.000 explorações agrícolas.
Ora, existe com certeza um efeito ecológico de escala, mas no sentido contrário. Quando os limites de nocividade são ultrapassados, graves efeitos aparecem: não há mais peixe nos rios, a circulação na cidade torna-se impossível, o ar irrespirável, o efeito estufa ameaça o planeta. A nocividade aumenta progressão geométrica ou até mesmo exponencial, enquanto que o tamanho da empresa ou da população aumenta apenas aritmeticamente. Hoje, um habitante dos Estados Unidos polui diversas dezenas de vezes a mais que um habitante da Índia. Um milhão de pessoas reunidas numa cidade polui mais um rio do que 1.000 aldeias de 1.000 habitantes. Uma criação industrial de porcos contendo 5.000 animais polui mais do que 5.000 pequenas criação individuais. Schumacher, em Small is Beautiful, mostrou o quanto o gigantismo é incompatível com um desenvolvimento harmonioso.
(Fonte: A Religação dos Saberes – O Desafio do Século XXI. Edgar Morin Págs: 132/133)

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