16 de dez. de 2010

Sapo Cururu (Rhinella schneideri) - Animal repulsivo e de grande importância no equilíbrio da natureza

Deve ser muito difícil viver em um mundo onde todos te acham feio e nojento e querem distância de você! 
Os sapos sabem muito bem do que estou falando! Esses animais são vistos dessa forma pela maioria das pessoas, porém as características que os tornam assim são essenciais para que eles possam sobreviver na natureza. O sapo-cururu, que é historicamente conhecido e relativamente comum em ambientes urbanos, tem a pele fria e nua (sem escamas, pelos ou penas), rugosa no dorso e úmida no ventre, o que causa repulsa às pessoas que o encontram pelo caminho. 
A pele é fria porque esses animais, diferentes de nós e de outros animais fofinhos e quentinhos, não geram calor pelo próprio corpo, assim sua temperatura é regulada de acordo com o ambiente. 
Uma vantagem é que eles conseguem tolerar variações de temperatura corporal muito maiores que a nossa, por exemplo, de 17 ºC durante a noite a 27 ºC em um dia ensolarado, enquanto nós precisamos manter nossa temperatura constante a 36 ºC, e qualquer pequena variação pode nos fazer mal, como uma febre de 38 ºC. A pele é úmida porque esses animais, além de respirar pelos pulmões, também respiram pela pele, principalmente pela região ventral, que é fininha e lisa. Assim, para que eles consigam absorver o oxigênio, a pele precisa estar úmida para que os gases possam atravessá-la. Se você conhece alguém que já matou um sapo porque jogou sal na sua pele, esse é o motivo!! Ele morre sufocado porque o sal resseca a pele impedindo a respiração. 
 A pele dos sapos é rugosa no dorso porque contém inúmeros grânulos e glândulas de veneno que, juntamente com a sua coloração, são importantes para se defenderem contra possíveis predadores. 
O sapo cururu tem uma coloração camuflada e são facilmente confundidos com pedras e folhas, além de possuírem o comportamento de permanecerem bastante tempo imóveis, o que diminui a chance de serem encontrados por inimigos. Porém, uma vez encontrados, eles possuem veneno que é liberado por toda a pele. 
É muito comum falar que os sapos esguicham leite. Esse leite corresponde ao veneno que pode espirrar de um grande parte de glândulas, chamadas paratóide que fica na região posterior da cabeça, atrás dos olhos do animal, porém eles não jogam seu veneno por conta própria. Isso acontece somente se essa glândula for pressionada. 
Muitos estudos são realizados com o veneno desses animais e já foram descobertas propriedades importantes, como sua capacidade anti-bactericida, anti-fungicida, cardiogênicas e até analgésica. 
Os sapos tem grande importância na natureza. Pertencem ao grupo dos anfíbios (do grego, duas vidas, amphi=dupla; bios=vida)  importante dizer que eles não possuem duas vidas, mas receberam esse nome porque podem ficar em água e terra.
São mais de 5900 espécies espalhadas por quase todo o mundo. O Brasil possui o maior número de espécies. 

Há evidências da presença dos anfíbios no planeta a mais de 200 milhões de anos, o que os tornam contemporâneos aos dinossauros; e evoluíram até os dias de hoje, mostrando a sua grande importância evolutiva.
Atualmente eles ajudam a controlar populações de insetos e vermes dos quais se alimentam, além de servirem como alimento para outros animais de maior porte, como serpentes e aves. Essas relações mostram uma grande importância ecológica, pois ajudam a manter o equilíbrio e a harmonia na natureza. Os sapos são interessantes por necessitarem tanto de um ambiente aquático, quanto de um ambiente terrestre para sobreviverem e se reproduzirem. 
Eles têm hábitos noturnos, o que diminui o risco de desidratação, e são geralmente encontrados na época do acasalamento, próximos a lagoas ou poças d’água temporárias. 

É nessa época que estão se reproduzindo, que podemos ouvir uma grande cantoria na beira das lagoas esses ambientes se tornam um grande campo de competição de machos por  fêmeas, atraídas pelo canto dos machos. Só eles cantam! É por esse motivo que costumamos encontrar esses animais mais nessa época do ano, pois estão aglomerados, cantando e se movimentando mais, e assim se tornam mais vulneráveis. 
Os sapos possuem reprodução externa, ou seja, liberam os gametas diretamente na água, onde ocorre a fecundação e a formação dos ovos na forma de um cordão gelatinoso que ocorre durante o abraço nupcial, momento em que os machos seguram as fêmeas e estimulam a liberação dos ovos.
Durante o desenvolvimento são formados os girinos, que respiram dentro da água através das brânquias, assim como os peixes. Depois de algumas semanas sofrem metamorfose, formam os pulmões e as patas e perdem a calda, adquirindo a capacidade de sair da águas e desbravar o ambiente terrestre. 

Depois de se reproduzir e deixar os ovos dentro da água, os adultos tendem a desaparecer, pois migram para ambientes terrestres onde permanecem durante o resto do ano até o próximo período reprodutivo. Nesse tempo vivem sozinhos, quietos e despercebidos. 

Pouco é conhecido sobre como esses animais se comportam nessa época do ano. Por mais que estejam escondidos nas áreas terrestres é importante lembrar que esse ambiente é essencial para a sua sobrevivência, e por isso, assim como os ambientes aquáticos, devem ser conservados para que eles consigam sobreviver na natureza. Os sapos são bastante sensíveis a mudanças ambientais e, dessa forma, podem ser considerados excelentes indicadores biológicos de áreas degradadas, pois são os primeiros a sentir os efeitos dessas alterações, como poluição da água e do ar, servindo de alerta para que percebamos que algo está errado! Atualmente observa-se uma diminuição global nas populações de anfíbios, atribuída principalmente às alterações humanas no meio ambiente e mudanças climáticas.
Como vimos, esses animais que causam repulsa são muito importantes tanto na natureza, Por isso devem ser aceitos e respeitados da maneira como são! 
Devemos repensar o modo de ver esses animais e devemos nos preocupar mais com as nossas atitudes, que estão acabando com eles. Buscar conhecer e entender melhor o papel que o sapo desempenha na natureza certamente modificará a imagem que possuem e aumentará o interesse em conservar essa grande biodiversidade que temos no nosso planeta, mas que pode desaparecer se não tomarmos nenhuma providência. 
Texto e fotos de Taissa Camelo Vilas Boas. Taissa é aluna de mestrado da UnB e desenvolve sua pesquisa na Lagoa Bonita da Estação Ecológica de Águas Emendadas.

2 comentários:

Reuber disse...

Excelente texto Taissa! Parabéns! Reuber

Elma Carneiro disse...

Taissa

Muito importante sua postagem com bastante informações sobre este anfíbio.
No Cerrado é muito comum vê-lo por nossos caminhos e agora fiquei sabendo mais sobre ele. Parabéns pela liguagem coloquial mesmo dando informações mais complexas o que tornou o texto atraente do começo ao fim com dados bem elucidativos.

Obrigada e escreva mais sobre os animais de nossa fauna.

Um abraço.
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